Parque Ibirapuera: A Disputa que Pode Impactar o Esporte ao Ar Livre
Por: Sportclick News em Corrida de Rua • 08/11/2024
O Parque Ibirapuera sempre foi um símbolo da democracia pública em São Paulo, um espaço de lazer e prática esportiva gratuito e acessível a todos. Contudo, desde que o então prefeito Bruno Covas assinou, em 2019, o contrato de concessão à Construcap, sob o nome Urbia, a dinâmica desse espaço tem mudado. O contrato, que prevê a gestão do parque por 35 anos, trouxe consigo uma série de transformações, algumas delas com grande impacto no bolso de quem busca o parque para atividades físicas, como as famosas corridas de rua.
Uma das medidas mais polêmicas foi a imposição de taxas para as assessorias esportivas que utilizam o parque como espaço de treinamento. A Urbia, gestora do parque, propôs um modelo de cobrança baseado no número de alunos atendidos por cada grupo, com valores que podem alcançar até R$ 1.300 por mês, dependendo da quantidade de participantes. Embora a Urbia defenda que essa taxa tem o intuito de contribuir para a manutenção do espaço e organizar as empresas que exploram comercialmente o parque, a realidade é que essa cobrança recairá sobre o bolso de quem já paga para usufruir de um espaço público: o cidadão.
A justificativa da concessionária é que, ao passar o parque para a iniciativa privada, ficou previsto no contrato de concessão que atividades comerciais, como as realizadas pelas assessorias esportivas, devem ser regularizadas por meio da cobrança de taxas. Porém, o que muitas vezes não é levado em conta é o quanto isso afeta o público em geral, já que as assessorias repassarão os custos para os alunos. Ou seja, a conta acaba chegando aos corredores, que, além de já pagarem seus impostos, terão de arcar com taxas para treinar num local que sempre foi público e gratuito.
Essa cobrança por parte de empresas privadas que exploram um bem público é apenas a ponta do iceberg de uma questão maior: a privatização dos espaços urbanos. O que antes era um direito acessível para todos, agora começa a ser tratado como uma mercadoria, onde quem paga para treinar nos parques é quem vai arcar com a manutenção desses espaços. E é aqui que começa a reflexão sobre onde estamos indo com isso.
Não seria o momento de repensarmos o papel do governo e da iniciativa privada na gestão desses espaços? Por que o poder público, ao invés de repassar para a empresa o direito de cobrar taxas, não poderia estabelecer um modelo de incentivo direto às assessorias esportivas sem custos adicionais para o praticante? Uma solução viável seria o governo assumir a responsabilidade de manter o espaço público como uma área de saúde e lazer, oferecendo apoio direto às assessorias por meio de convênios, sem transformar o parque num terreno de lucro para as empresas.
Ao permitir que a cobrança de taxas se espalhe para outros parques sob concessão, o município estaria criando um precedente para que a população pague para usar o que sempre foi seu por direito. Como qualquer atleta ou corredor sabe, o preço da atividade física já é alto: os custos com equipamentos, planos de saúde, alimentação e suplementos não são baratos. Agora, com a privatização de um espaço público que era livre e acessível, o impacto financeiro de treinar nos parques será ainda maior.
Isso nos leva à pergunta central: até onde devemos permitir que o governo e as empresas privadas tirem proveito do nosso direito de usar os espaços públicos? O que estamos vendo é uma inversão de papéis. O governo, que deveria garantir o acesso à saúde e ao lazer, acaba repassando essa responsabilidade para a iniciativa privada, sem garantir alternativas acessíveis para a população. E os resultados disso são claros: o custo de viver, respirar e se mover dentro da cidade só aumenta.
O movimento agora é claro: os cidadãos devem se mobilizar para questionar esse modelo de gestão e exigir que os parques sejam preservados como espaços livres para a população, onde o direito ao lazer e à saúde não sejam comercializados. Afinal, já pagamos impostos para garantir que o acesso ao esporte seja gratuito e democrático, e não podemos permitir que o lucro de algumas empresas inviabilize o direito de todos.
SportClick News: "A verdadeira corrida agora é pela preservação dos direitos públicos em um espaço que pertence a todos."