A corredora que nunca para: conheça idosa de 93 anos inscrita na Meia Maratona de Jurerê
Por: SPORCLICK em Corrida de Rua • 03/10/2024
Arquivo pessoal
A linha de chegada é só uma linha para quem não se deixa ter limites. Odete Maria da Silva, aos 93 anos, tem cruzado a barreira do tempo com passadas firmes, alegria de viver e uma energia que transborda a sua estatura. Atleta na melhor idade, ela venceu os 5km da Maratona de Florianópolis e vai encarar mais cinco na Meia Maratona de Jurerê.
Aos 93 anos, Odete vai encarar mais cinco quilômetros na Meia Maratona de Jurerê – Foto: Germano Rorato/ND
A filha Adelaide e o genro Aristides são os companheiros de corrida de Odete, que dispensa elevador, cadeira de rodas e outros cuidados do tipo. O vídeo dela cruzando a linha de chegada, com menos de uma hora de prova, tem quase 300 mil visualizações no Instagram. Sentar não é com ela, o negócio é correr.
“Na primeira aula de gastronomia queriam me dar uma cadeira pra sentar e assistir à aula, eu perguntei ‘por quê?’. Quando chego no aeroporto querem me oferecer cadeira de rodas, eu não quero saber disso tão cedo. Levanto todo dia às 6h para caminhar, me fortalecer. Vou com as minhas próprias pernas”, disse.
Odete levanta cedo e vai para a academia em Jurerê Internacional, distante, a 1 km de casa, a pé. Lá corre, faz fortalecimento e remo, para depois voltar e fazer o almoço para a família. Além disso, se formou em gastronomia após os 90 anos e segue fazendo leituras, palavras cruzadas e mostrando sua vontade de viver.
Odete levanta cedo para se exercitar, sem desânimo – Foto: Arquivo pessoal
A corrida entrou na sua vida após a perda do marido. Incentivada por Adelaide, passou a fazer treinos em casa durante a pandemia, desafios virtuais e hoje em dia está sempre com o tênis nos pés para dar pelo menos um “trotezinho” nas ruas de Jurerê.
“Não paro, não. Subo e desço os 18 degraus da escada de casa quantas vezes forem necessárias. Cuido da horta, dia de semana faço a comida e fim de semana deixo com eles. Dispenso o elevador”, disse.
“Eu tento me espelhar o máximo que eu posso, ela é um exemplo de ânimo e modo de vida, está sempre positiva com as coisas, é um espírito maravilhoso”, explicou o genro Aristides Orlandi Neto.
Genro e filha são os maiores incentivadores de Odete na corrida – Foto: Germano Rorato/ND
A força para Dona Odete correr como se não houvesse amanhã vem de uma vida no campo em Portugal, país que deixou com dois irmãos aos 18 anos. Com lágrimas nos olhos, falou da saudade da mãe que viu pela última vez na partida para o Brasil.
“Vim para o Brasil com 18 anos e nunca me meti em encrenca. Minha mãe disse quando viemos: ‘deixo vocês irem para o Brasil, mas lembrem-se que o mundo é pequeno e prometam que nunca vão me envergonhar, as notícias chegam”.
“Eu nunca fiz nada errado lembrando as palavras da minha mãe. A única tristeza que tenho foi nunca ter visto a minha mãe de novo”, relatou emocionada.
A família de Odete se mudou para Florianópolis na pandemia, ela morou no Rio de Janeiro desde quando chegou. Ela e o marido, que faleceu quando ela tinha 78 anos, tinham uma empresa de ferragens e um restaurante. Mãe de duas filhas e com vários netos, ela é uma lição de que não se tem idade certa para começar um esporte.
“Eu e meu marido criamos duas filhas com muito sacrifício porque não tínhamos ninguém. Não tenho nada do que me queixar da vida, foi uma vida dura, mas venci. Se a minha lição fizer bem para a alguém, fico feliz”.
Fonte: Grupo ND